A última edição da Revista Labor, do Ministério Público do Trabalho, publicou matérias sobre o trabalho doméstico no Brasil. Uma delas, intitulada “Quem cuida de casa também quer casa”, mostra a história de três trabalhadoras e trabalhadores domésticos que saíram dos quartinhos reservados para eles nas casas dos empregadores para a sua primeira casa própria, localizadas na Vila 27 de Abril, conjunto de residências situada no bairro do Ibura, na Região Metropolitana do Recife (RMR).
A reportagem conta a história dos trabalhadores domésticos aposentados, João Pedro, Maria de Lourdes e Maria José, que, segundo a publicação, “dividem uma história de luta pelos direitos da categoria, pleiteados numa época em que não havia segurança, as perspectivas eram escassas, mas existia muita vontade de mudar”.
A matéria ressalta ainda o condomínio de prédios que foi construído em Salvador para ser moradia exclusiva de trabalhadoras domésticas. “Entregue em setembro de 2012, o Núcleo Habitacional 27 de Abril, tem 80 apartamentos, quadra de esportes e um parque infantil”.
“O Núcleo Habitacional 27 de Abril resulta de parceria entre o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado da Bahia (Sindoméstico/Ba), a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), a União e o Estado da Bahia.
A presidenta de honra da FENATRAD, Creuza Maria Oliveira, lembra que o direito à moradia é luta antiga da categoria, tanto que o critério de seleção para a ocupação dos quatro prédios, cada um com o nome de uma trabalhadora – Maria José Alves, Maria das Graças, Teófila Nascimento e Lenira Carvalho – foi morar de aluguel ou na casa dos patrões.
Laudelina
Já a matéria intitulada “Nos passos de Laudelina” relata a renovação de lideranças no movimento de trabalhadoras domésticas. Laudelina de Campos Melo é uma referência na luta pela atuação organizada das trabalhadoras domésticas. Ela nasceu em 12 de outubro de 1904 em Poços de Caldas, Minas Gerais.
Sua trajetória foi fundamental para a organização da categoria na busca de direitos. Laudelina também levantou, através da sua atuação sindical, bandeiras contra o preconceito racial e contra a discriminação das mulheres.
Segundo a publicação, “sua luta ajudou a ampliar a representação sindical das trabalhadoras domésticas. Hoje, a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD) congrega 22 sindicatos e uma associação. Representa uma categoria formada por cerca de 7,2 milhões de profissionais. Está presente em 13 estados brasileiros: Acre, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe.”
A reportagem destaca a atuação de Luza Batista, coordenadora geral da FENATRAD, Creuza Oliveira, presidenta de honra da entidade e Cleide Pinto, coordenadora de Atas.
Luiza Batista Pereira tem 66 anos. É trabalhadora doméstica aposentada. Ela reafirma que a FENATRAD, quando criada, foi construída para somar forças. “Nosso trabalho, a fundação dos sindicatos, tem por objetivo garantir apoio para as companheiras que representamos. A FENATRAD também promove oficinas, seminários e campanhas”, disse.
Sobre a mobilização da categoria, Luiza Batista afirmou à Labor que “trabalhamos uma, duas, no máximo três em cada residência, diferentemente de uma empresa, onde há dezenas ou centenas de trabalhadores. Ela explica que o trabalho de comunicação da FENATRAD é de formiguinha: “Temos a dificuldade de trabalharmos pulverizadas, de não podermos ir até às residências e o nosso trabalho é no sindicato”.
Na reportagem, Creuza Maria Oliveira, presidenta de honra da FENATRAD, falou sobre “as violações de direitos e as violências sofridas pelas trabalhadoras domésticas no Brasil. Uma realidade existente em todas as regiões do país, mas que atinge, especialmente, as mulheres negras”.
Cleide Silva Pereira Pinto, 53, é filha de diarista, moradora de Mesquita, no Rio de Janeiro. Ela contou à Labor como iniciou no movimento sindical.
Ela é também presidenta do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Nova Iguaçu. Questionada sobre as principais lutas da FENATRAD, Cleide é direta: “luta por equiparação de direitos – assim como o médico e o professor têm uma matrícula – queremos que as diaristas também tenham um”.
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