Por Bárbara Souza
Colaboração: Helen Sampaio e Gilberto Amorim
Foi realizada na noite da última segunda-feira (29), na Reitoria do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), a Aula Inaugural do Programa Mulheres Mil – Projeto Piloto Trabalhadoras Domésticas. Realizado no Auditório 2 de Julho, o evento reuniu mais de 140 estudantes, além de gestoras(es) e servidoras(es) do IFBA, e dirigentes do governo estadual e de entidades sindicais. As aulas do curso de Cuidadora de Idosos serão ministradas para as trabalhadoras domésticas matriculadas no projeto em cinco bairros de Salvador: Canabrava, Valéria, Doron, Sussuarana e Mata Escura.
No Brasil, o trabalho doméstico é a ocupação de 5,8 milhões de pessoas, sendo 92% delas mulheres e 61,5% mulheres negras. Trata-se da categoria que mais emprega mulheres no país, principalmente mulheres negras com baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda. As trabalhadoras domésticas formam o maior grupamento profissional dentro da força de trabalho de cuidado remunerado no Brasil, respondendo por cerca de ¼ do total de trabalhadores e trabalhadoras do setor. Apesar da importância da profissão na provisão de cuidados para as famílias brasileiras, a realidade dessas trabalhadoras ainda é marcada por precarização, má remuneração e desproteção social, trabalhista e previdenciária.
“A gente vai fazer desses espaços, espaços de pertencimento e de orgulho, porque vocês fazem parte de um coletivo maior, que é o Instituto Federal da Bahia. Então, sejam todas bem-vindas, eu desejo uma excelente trajetória para vocês! Dificuldades vão acontecer. Não é a nossa primeira turma do Mulheres Mil, a gente sabe que, na nossa condição de mulher, nos é posta uma série de dificuldades para conseguirmos fazer o nosso percurso, a nossa formação, para pegarmos esse diploma, para termos o reconhecimento. Sabemos o tanto que nos esforçamos muito mais, duas vezes mais, três vezes mais, dez vezes mais do que outros companheiros e companheiras. Precisamos nos orgulhar desse lugar que ocupamos e fazer dele a melhor experiência possível”, afirmou a pró-reitora de Extensão do IFBA, Nívea Cerqueira.
Além da pró-reitora de Extensão do IFBA, Nívea Cerqueira, integraram a mesa de abertura juntamente com o reitor em exercício, Jancarlos Lapa, a diretora de Extensão do campus Salvador, Júlia Nobre – que representou a diretora-geral do campus, Luanda Rodrigues -, e a coordenadora geral do Pronatec no IFBA, Sueli Prazeres. Além dos(as) dirigentes do Instituto, também compuseram a mesa a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães, a superintendente de Promoção da Igualdade Racial da Sepromi, Mércia Porto Barata, a fundadora do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos (Sindoméstico-Bahia), Creuza Oliveira, e a secretária do Sindoméstico – Bahia, Rosângela Santana.
Uma das fundadoras do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas da Bahia, há cerca de 34 anos, Creuza Oliveira também participou da fundação do Conselho Nacional das Trabalhadoras Domésticas, “que a gente criou em 1985, porque a gente não podia se organizar em sindicato e nem federação”. Ela lembrou também que em 1997, foi criada a Federação Nacional. “Eu fui presidenta da Associação das Trabalhadoras Domésticas da Bahia, em 1986, porque a gente não podia ter sindicato, a gente só podia ficar como associação. A gente só conquistou o direito de ter essa unidade na Constituição de 1988, e foi uma luta para a gente ser reconhecida enquanto categoria e poder então se organizar como sindicato. Muitas de nós não sabem, muitas da nossa categoria não sabem se a gente tem direito a carteira assinada com 50 anos. Eu sou fruto da luta de dona Laudelina de Campos Melo. Nós somos fruto da luta de dona Laudelina. Ela foi uma mulher à frente do seu tempo”, concluiu Creuza, ao mencionar a mineira que foi pioneira na luta por direitos dos(as) trabalhadores(as) domésticos(as) no Brasil. Nascida em 1904, pouco mais de 15 anos após a abolição da escravatura no País, Laudelina de Campos Melo, uma mulher negra, começou a trabalhar aos sete anos de idade e teve que abandonar a escola para cuidar dos irmãos enquanto a mãe trabalhava. Na década de 1930, ela fundou a primeira associação de trabalhadores(as) domésticos(as) do Brasil.
ESTUDANTE DO IFBA INTEGRA MESA EM EVENTO DE LANÇAMENTO, EM BRASÍLIA
Na última terça-feira, 30 de abril, o Governo Federal realizou o de lançamento do projeto “Mulheres Mil: Trabalho Doméstico e Cuidados”. O evento aconteceu no Auditório do Bloco A, na Esplanada dos Ministérios em Brasília, contou com transmissão ao vivo pelo canal do Ministério das Mulheres no YouTube. , e reuniu ministros, secretárias(os), representantes da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), alunas inscritas no curso, e reitores(as) dos Institutos Federais, além de uma especialista no tema do trabalho doméstico e do cuidado em suas intersecções de gênero e raça
A estudante Sheila Ivi Souza, matriculada no projeto piloto do IFBA no Programa Mulheres Mil, integrou a mesa de abertura do evento, “representando as 900 estudantes do projeto piloto”, segundo relatou a coordenadora-geral do Programa Mulheres Mil no IFBA, Vigna Nunes. Sheila Ivi é soteropolitana, “uma mulher negra, de cor parda”, de 47 anos, trabalhadora doméstica desde os 20 anos, que atua como diarista e é filiada ao Sindoméstico-BA desde 2021. Ivi tem Ensino Médio completo, fez o curso de Trabalhadora Doméstica Cidadã e está matriculada no curso de Cuidadora de Idosos.
O evento foi realizado pelos ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Educação (MEC), das Mulheres (MMulheres), dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), do Trabalho e Emprego (MTE) e da Igualdade Racial (MIR). Estes órgãos integram o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) – uma articulação interfederativa composta por 18 ministérios responsáveis por criar a Política e o Plano Nacional de Cuidados – e representam o governo federal no Protocolo de Intenções 25/2034 firmado com a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).
SOBRE O PROGRAMA MULHERES MIL
Recriado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec/MEC), o Programa Nacional Mulheres Mil oferta vagas nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), nas redes estaduais e nos sistemas nacionais de aprendizagem, no âmbito do Pronatec. O Programa tem como principais diretrizes possibilitar o acesso à educação; contribuir para a redução de desigualdades sociais e econômicas de mulheres; promover a inclusão social; defender a igualdade de gênero; combater a violência contra a mulher; promover o acesso ao exercício da cidadania; e desenvolver estratégias para garantir o acesso das mulheres ao mundo do trabalho.
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Matéria transcrita do site do Portal IFBA.