Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Dandara de Palmares, Glória Maria, Maria Felipa, Maria Firmina dos Reis, muitas outras Marias, sua avó, mãe, tia, irmã… Hoje, 25 de julho, é o dia de muitas delas: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha.
Comemorada desde 1992, a data busca dar visibilidade à luta das mulheres negras contra o racismo e a opressão de gênero. No Brasil, a data ainda homenageia a líder quilombola Tereza de Benguela, símbolo da luta e resistência contra o governo escravista.
“O dia de hoje é para lembrarmos dessas heroínas invisibilizadas que agora estão sendo um pouco mais olhadas, perceber que somos heroínas e que existem muitas outras heroínas na nossa contemporaneidade. É um dia para a gente dizer: estamos aqui, atentas e fortes, falando por nós e pelas que vieram antes. Mas não devemos nos deter ao dia de hoje. Queremos falar de mulher preta o ano inteiro, pois somos assunto para o ano inteiro”, afirma a atriz, escritora, produtora, membro do Bando de Teatro Olodum, historiadora, museóloga e psicopedagoga, Cássia Valle.
Autora, junto a Luciana Palmeira, dos livros infantis ‘Aziza – A preciosa Contadora de Sonhos’, ‘Calu – Uma menina cheia de histórias’ e ‘Felipa’ – uma biografia de Maria Felipa -, Cássia ressalta a importância de levar conceitos de identidade e memória para leitores mais jovens.
“Estamos passando para essas crianças um saber nosso que vem de longe e que deve ser reverenciado. Isso faz com que, quando adulto, ela esteja mais firme em sua personalidade e identidade”, explica.
Mulheres como Maria Felipa não podem ficar invisíveis, salienta a escritora, assim como todo o engajamento em torno da figura dela no Bicentenário do 2 de Julho não pode durar apenas um ano.
“Agora devemos seguir, ano após ano, falando e pesquisando sobre Felipa e tantas outras mulheres ignoradas através da história. Não podemos dar nenhum passo atrás, precisamos aprofundar e contar a importância dessas mulheres na construção de nossa personalidade como mulheres negras empoderadas”, afirma Cássia Valle.
Reconhecimento
O 25 de julho é uma data para refletir sobre a situação das mulheres negras em solo latino americano, afirma a titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Ângela Guimarães.
Assim, nada mais oportuno do que homenagear Maria Felipa, um símbolo do protagonismo negro popular e feminino. Uma referência nos dias atuais. “Precisamos superar a invisibilidade histórica e ressignificar a presença das mulheres negras na memória do bicentenário da independência do Brasil na Bahia”, salienta a secretária.
Em homenagem ao dia de hoje, a Sepromi e a Secretaria de Cultura (SecultBa) decidiram recriar algumas das capas dos jornais ‘Diário de Notícias’ e ‘O Imparcial’ – da década de 1920 – com o intuito de incluir a figura de Maria Felipa, que naquela época foi sumariamente ignorada das comemorações e relatos da Independência, fortalecendo assim sua existência e protagonismo.
A ação integra o conjunto de atividades em celebração ao Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia. As capas serão publicadas neste 25 de julho nas redes sociais da SecultBa (@secultba) e da Sepromi (@sepromibahia).
O objetivo é a dimensão política e simbólica do olhar, fundamental para o fortalecimento da cultura baiana. “Só teremos um futuro com democracia quando conhecermos e estabelecermos o protagonismo de fato aos nossos símbolos históricos de luta pela liberdade. Reconhecer e dar visibilidade a Maria Felipa como uma das figuras centrais em uma das principais lutas históricas do país, tem uma dimensão simbólica e reparatória”, destaca o titular da SecultBa, Bruno Monteiro.
Matéria transcrita do site do Jornal A Tarde, no dia 25 de julho de 2023